quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nudez e contracultura no musical Hair

Por Laércio Júlio da Silva 

14/05/2009

Atualmente filas imensas dobram o quarteirão da Rua 45 e lotam a fachada psicodélica do Teatro Al Hirschfeld na Broadway. “Let the sun shine in!” É a volta do musical “Hair”. O retorno com sucesso inesperado, já que para muitos a temática pode parecer antiquada, pegou a todos de surpresa. Volta aos palcos o musical que estreou em 1967 entre a realidade grotesca da Guerra do Vietnã e o auge do movimento hippie versando sobre amor, resistência pacífica e praticando a nudez coletiva em boa parte das cenas enquanto “a Lua entra na sétima casa e Júpiter se alinha com Marte” segundo profetiza a música tema. Em paz imperaria aí a Era de Aquário.

A peça trata da saga de um grupo de hippies que tenta a todo custo convencer um jovem recruta a não se alistar na Guerra do Vietnã. Na tentativa de subvertê-lo, as ações do grupo revezam entre provas de amizade e militância pacifista acompanhadas por muita nudez coletiva e descobertas sobre o sentido da vida.

Censurado em muitos países pela mensagem antibelicista, pela primeira vez na história do teatro contemporâneo a nudez é tratada no ambiente social, sem qualquer conotação sexual pregando a volta a valores simples, se revelando nos dias de hoje um clássico entre os musicais. Os personagens nadam, brincam e se divertem com naturalidade totalmente nus em várias cenas. Em 1979, o “Hair” se transformaria em filme na versão do premiado diretor Milos Forman.

No Brasil, a peça estreou em 1969 em plena ditadura e passado um ano do famigerado Ato Institucional nº5, o musical chamou a atenção dos censores ávidos por limitar as cenas de nudez e protesto, mesmo assim foi encenada com sucesso e revelou artistas como Armando Bogus e Sônia Braga: “a tigresa de unhas negras e íris cor de mel que trabalhou no Hair” transportada para os versos da famosa música composta por Caetano Veloso.

Há quem diga na atualidade que o sucesso do musical se deve à nova sobriedade com que o povo americano da era Obama, golpeado por uma crise econômica visceral, se volta a hábitos simples depois de séculos de excesso consumista e profunda prepotência.

Hoje, apesar da contracultura da época ter se transformado em cultura oficial massificada e a maioria dos hippies abandonarem seus hábitos para se tornar yuppies engravatados e bem-sucedidos perfeitamente absorvidos pelo sistema, nem por isso o “Hair” perdeu no contexto atual a capacidade de polemizar com a possibilidade de se sonhar com harmonia entre os povos. As guerras continuam presentes por aí para provar essa afirmação.

O musical ainda reserva encantos radicais como amor à humanidade e uma mensagem constantemente imbuída de tolerância, muito próximo do que prega o naturismo moderno.

Resta torcer para que em um futuro bem próximo uma nova versão adaptada à realidade brasileira possa trazer à tona a saudável polêmica de que um mundo melhor ainda é possível.


Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat (www.goiasnat.com.br)