sábado, 26 de dezembro de 2009

A Copenhague que queríamos


Por Laércio Júlio da Silva

26/12/2009
A Conferência sobre o Clima realizada em Copenhague terminou com a certeza de que os países ricos querem impor aos países em desenvolvimento uma série de obrigações que eles mesmos não tiveram durante séculos de exploração desenfreada da natureza e seus recursos. Durante toda a sua história os países ricos, objetivando custear o seu desenvolvimento, destruíram impiedosamente sua fauna e sua flora e, não satisfeitos com isso, o capitalismo criou sua fase superior, a exploração imperialista para saquear outros países através do colonialismo e da prática velada do neo colonialismo. Agora querem impor ao resto do mundo um modelo cerceador que na prática emperra o desenvolvimento e só ajuda na perpetuação do domínio das nações ricas sobre as pobres. As medições científicas sugerem que o hemisfério norte e principalmente os Estados Unidos são responsáveis pelo modo de produção e consumo mais poluidor do planeta. Para o chefe da diplomacia argentina, Jorge Taiana, representante de seu país em Copenhague, os países desenvolvidos mostraram “mais uma vez sua pouca disposição em cumprir o que já estava estabelecido na Convenção sobre Mudança Climática e no Protocolo de Kioto, quando são os responsáveis históricos de 75% das emissões de gases do efeito estufa”. São as economias industrializadas que deveriam ser obrigados a fazer os maiores esforços e facilitar o financiamento para a mitigação dos efeitos do aquecimento global e a adaptação para tecnologias limpas e renováveis, ajudando assim os países em desenvolvimento a não errarem como eles, ao invéz de tentar impor uma agenda aos países pobres.

O Presidente dos EUA, Barak Obama, cinicamente expressou, sem meias palavras, a síntese do fracasso da Conferência. Disse arrogantemente: “A América já apresentou seu compromisso (...). Já decidiu o seu rumo. Esperamos que os outros também façam a sua parte”. E completou dizendo que os EUA aceitam participar do “sacrifício” de reduzir a poluição e ajudar os pobres desde que esse prejuízo seja globalmente socializado e especialmente distribuído entre os emergentes (Brasil, China, Índia, etc.) e não apenas auferido aos ricos “sujões”. Prisioneiro do poderoso “lobby” das grandes corporações americanas, foi incapaz de se contrapor a pressão de empresas, principalmente à de combustíveis fósseis, que viram seus interesses ameaçados por um acordo que atrapalharia os lucros.

Na nossa participação, se por um lado, Lula deu um “pito” geral nos países ricos, destacando a oportunidade que todos estavam deixando passar de efetivamente fazerem alguma coisa real pela redução do aquecimento global, por outro lado deixou escapar a oportunidade de assumir uma posição de liderança mundial com uma proposta unificada em vez das famosas “cabeçadas” entre ministros na ocasião que expuseram ao mundo divergências internos no governo.

Aos olhos do mundo dois fatos ficaram provados: a de que  resultado da conferência não foi o ideal, salientando a péssima organização que credenciou três vezes mais participantes causando tumulto e manifestações violentas felizmente não ocorridas na Conferência do Rio em 92, muito melhor organizada.

O outro fato notório foi à pressão da opinião publicada representada pelas ONGs que cada vez mais valoriza gestores que efetivamente praticam e defendem uma postura mais concreta em relação à redução de emissões de gazes. Pressão que pode tirar ou dar votos, e os governos democráticos se curva a essa evidência.

O sucesso seria se saíssemos de Copenhague com um novo protocolo de metas para redução dos países desenvolvidos, outras metas de redução para alguns países emergentes como o Brasil, a China e a Índia, e que esse novo protocolo excluísse dessas obrigações os países mais pobres que deveriam ser ajudados por um pacote financeiro com o objetivo de enfrentar as conseqüências do aquecimento global.

Lamentavelmente isso não aconteceu, e resoluções importantes foram proteladas para 2010. O relógio da vida não espera e o mundo aguarda posições urgentemente mais claras.

Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat.