quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O ATOR E O NATURISMO

Publicado originalmente em http://atrizrosanabentto.blogspot.com/


Pelo que compreendi, na visão de Luís Otávio Burnier, o ator precisa estar o mais próximo possível da natureza.
Uma cidade pequena, com rios limpos, cachoeiras, abundância de árvores e pássaros, presença de animais, pouco ruído humano e muitos sons da natureza, ou então um espaço onde tudo isso foi preservado ou organizado para receber pessoas de cidades grandes onde o barulho humano predomina. Num lugar onde o silêncio (ausência de barulho de máquinas operadas pelo homem) é o maioral, é desse lugar que Otávio fala. E daí? Por que relacionar isso com naturistas e então com os atores?
Bem, num espaço onde a natureza pode se manifestar, quando digo natureza digo tanto do ser humano quanto vegetais e animais, o movimento pode ser percebido com mais atenção. E, como o foco aqui é o naturista e o ator, a movimentação do corpo humano é que é observada com mais carinho. Essa mobilidade pode ser aproximada do movimento das águas, dos ventos, da liberdade dos pássaros. Os cinco sentidos libertam-se. Logo, é possível sentir essa natureza tocando o corpo com mais propriedade, pode-se sentir esse contato com o belo: sentir o calor do sol, a água da chuva ou o vento tocando a pele; sentir aromas de flores, terra molhada ou simplesmente de um gramado que acabou de ser cortado; ouvir o cantar dos pássaros, do balançar das folhagens, da água da cachoeira; ou ainda não ouvir nada e estar em perfeita comunicação com toda essa natureza por meio do silêncio enquanto se faz parte desse cenário. Ao perceber que como ser humano fazemos parte desse cenário, automaticamente nosso organismo, nosso corpo, com os sentidos aguçados, responde com alegria, agradece o prazer recebido por meio de uma "comunicação bela, singela e silenciosa. Sentida com a alma e com o corpo" (L.O.B). E aí aparece a comunhão. O humano em comunhão com a natureza. Não falo de algo que só buda consegue. Isso de que Otávio fala, qualquer pessoa que saia dessa piração que é a cidade grande e vá para um lugar mais afastado, silencioso, com uma natureza mais expressiva, sente, só depende de como essa pessoa vai aproveitar isso. As vezes ela não racionaliza a coisa, apenas sente, outras vezes ela sente e pensa, reflete sobre isso e começa a perceber como o organismo responde à agitação e à calmaria, como o corpo responde à beleza e à feiúra dos ambientes, como o corpo recebe situações agradáveis e rejeita outras desagradáveis, etc.
Todo esse contexto de maior aproximação do homem com a natureza, nos dias de hoje parece ser um privilégio do naturista (aquele que segue toda uma filosofia e não aquele que apenas tira a roupa e já acha que é deus), ele é que está alguns passos adiante quando se fala em entrar em comunhão com a natureza. E o naturista o faz desnudo. Então parece adiantar-se em dois sentidos: primeiro despe-se com facilidade das roupas, e das máscaras sociais, e segundo harmoniza-se com a natureza, e com sua própria natureza.
Onde fica o ator nessa história? bom, esse é o indivíduo cujo corpo é o item mais importante na execução de sua tarefa. E, para que represente personagens da maneira mais adequada possível, para que seu corpo/instrumento esteja o mais afinado possível, deverá conhecê-lo muito bem, saber o mais que puder sobre as ações e reações de seu corpo diante de situções diversas, ou então estar o mais preparado possível para deixar seu corpo agir naturalmente, ouvindo, reconhecendo e respeitatndo tais reações (diante de: frio, calor, alegria, ódio, raiva, tristeza, compaixão, amor, etc.)
Nesse sentido, o ator pode ser aproximado do naturista, não para ser comparado positiva o negativamente, se é mais ou menos em si, que o naturista, mas para se ver que é positivo para o ator, frequentar ambientes naturistas por causa da harmonia com a natureza (vegetal, animal e humana). (Isso se não tiver um Zé mané que leve auqueles axés pra tocar em último volume. Aí eu fico impaciente. Tá vendo? Uma reação natural do meu corpo. Ele quer tranquilidade e calmaria e de repente um axé no último volume. Irritações à parte.) O ambiente naturista é praticamente um laboratório para o ator, tanto para recarregar suas energias quanto para observar esses aspectos relacionados ao trabalho de conhecimento e reconhecimento do próprio corpo.