domingo, 17 de janeiro de 2010

MEDO DE SER FELIZ.


Por Evandro Telles


Não tenho medo de elevador, tenho pânico. Detesto ficar em lugares fechados sem ao menos uma janelinha, se for banheiro deixo até a porta encostada. Isso teve uma causa, trabalhava no 9º andar de um prédio e houve um princípio de incêndio no 4º. Algumas pessoas foram retiradas às pressas do elevador que tinha parado de funcionar. Por muito tempo deixei este medo tomar conta de mim. Era proibido usar este meio de locomoção.

Com algumas resistências venci esse sentimento, de alguma forma reconheci que era uma insegurança, algo que estava no meu inconsciente que às vezes me impedia até mesmo tratar de negócios com empresas de localização em prédios muito altos.

Tem pessoas que não andam em avião, outras em navios e até mesmo em automóveis. Não vivem a vida plenamente, sempre recuam nos momentos que se deparam com seus medos. Acreditam, inclusive, no ditado que “Alegria de pobre dura pouco” e evitam momentos alegres.

A maioria dos depoimentos das pessoas que entram para o Naturismo tem demonstrado sinais de medo. Por parte do homem, o eterno problema da falta de controle do seu corpo. No caso da mulher é algo mais complexo, ela sempre se fechou num redoma intransponível e o seu corpo, o que tem de mais sagrado, não é permitido viver com naturalidade. Na porta de áreas Naturistas tremem, turbilhões de pensamentos passam em suas cabeças para tentar vencer o medo.

A riqueza do naturismo, entre outras, é que nos permite vencer obstáculos psicológicos, as roupas criaram a falsa ilusão de proteção, criaram uma parede divisória da nossa natureza com o mundo que nos cerca. Na verdade, o medo sentido no início da prática do naturismo, o que é natural, é porque ficamos expostos, não somente o corpo, mas também os pensamentos. A partir desse instante o obsceno terá que ser abandonado. Será conseguido tal intento?

A vergonha sentida do corpo ocorre, principalmente, por não se entender a dimensão do que ele representa no universo. “Somos uma alma que possui um corpo e não um corpo que possui uma alma”, sendo assim somos mais seres espirituais adquirindo experiências de um mundo material. Estamos entrando na era da espiritualidade, muitos procuram ter o encontro com o Divino que existe em cada ser e tenta se desprender de valores que impedem tal encontro.

O primeiro objeto material a ser largado são as roupas, é mais fácil vencer esses bloqueios e se entregar a uma energia emanada da natureza que abraça à nossa. Essa junção, para algumas pessoas despreparadas, dá medo porque suas mentes ainda estão cheias de impurezas. Ainda estão presas nos seus valores materialistas e não conseguem fazer a limpeza mental.

Sentimos a insegurança quando entramos para o que nos é desconhecido. Descobrimos que todos nós temos os nossos medos em diferentes níveis e também com reações bastante variadas. Para algumas pessoas podem até bloquear a sua capacidade de pensar, decidir e agir, para outras podem se sentir irritadas. Reações que impendem o sentimento da felicidade e realizações pessoais.

Por outro lado, a insegurança e o medo são opostos da Fé, o que nos remete de volta para o desenvolvimento e evolução da nossa espiritualidade. Ser Naturista é se propor a vencer as divisões que criamos com os nossos preconceitos em relação ao corpo, é vencer o medo e deixar-se entregar ao encontro da nossa essência, é libertar a mente de pensamentos medíocres que nos impedem de abrirmos as portas para o Ser Divino, é acreditar no potencial energético que será encontrado nos relacionamentos pessoais e em sintonia com o Ser Supremo.

Acreditar na filosofia Naturista pode proporcionar bem-estar e um sentimento de paz, mas não pode ser esquecido que todas as coisas precisam ser alimentadas para sobreviverem. A fé me faz mais seguro, mas a oração me põe em conecção com uma fonte de energia infinita.

A oração foi considerada uma penitência para quitar os pecados, e não é. Por esse motivo muitos não se importam e nem reconhecem os benefícios dela. Para estar em clima de oração é preciso não de coração puro e sim de mente limpa, não é isso que também a filosofia Naturista prega?

“Orar é a respiração da alma” (Mahama Gandhi).

Por isso, sempre que posso eu cito sem solicitar permissão, mas colocando os devidos créditos, o que Pierre Demouliere escreveu em seu artigo Naturismo e Fé: “É justo ser Naturista e Cristão. A Fé esclarece o Naturismo e o Naturismo fortifica a minha Fé”.

O Naturismo favorece a aceitação de si próprio proporcionando uma tranqüilidade diante dos nossos defeitos, passamos reconhecer nossas imperfeições e psicologicamente nos tornamos melhores, menos obsessivos, assim criamos condições mais propícias para entendermos o significado da palavra “respeito”.

Largar as roupas é vencer os medos e acreditar que somos criados por uma inteligência infinitamente superior, agradecendo em nossas orações toda constituição do nosso corpo e não parte dele. É conectar com Deus com a mente limpa. Só assim, só assim mesmo, a felicidade poderá estar presente em nossas vidas. Continuo afirmando como já disse na entrevista concedida a Elaine Vieira do jornal A Gazeta em 27/12/09: Seríamos pessoas melhores se nos despíssemos. Junto com as roupas iriam embora também muitos sentimentos medíocres e hipócritas.

Só é preciso não sentir MEDO DE SER FELIZ.

Evandro Telles

16/01/2010