quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ontem em Peladistas, hoje na Folha

Ontem falamos do poder de decepção das palavras, citando as duas "Operação Predador" em que a policia prendeu Nelci Rones em Tambaba este dezembro, e três anos atrás, Dr. André Herdy, Fritz Louderback, e suas mulheres.

Hoje, a Folha de São Paulo traz na sua terceira página matéria assinado pelo criminalista Adriano Salles Vanni, "Ilegalidade dos Rótulos da Polícia Federal" (somente para assinantes no site da Folha, mas disponível aqui.) Dr. Adriano nota que:

Rótulos esdrúxulos incutem nas mentes expressões que passam a ser muitas vezes o único elemento da incriminação de supostas quadrilhas.

A representação na mente começa com o vocábulo "operação", que tem sinônimo insosso: cumprimento de mandados judiciais.

Isso apenas inaugura o artifício.

Àquela expressão acrescenta-se outra, depreciativa e infamante, que, adotada pela mídia e pelos julgadores, lança o inimigo ao mais baixo degrau da dignidade humana, associando-o a insetos, a vermes, a répteis e a outros seres repugnantes.

As elucubrações para criação do vocábulo adequado são férteis: operações sanguessugas, gafanhotos, vampiros, chacais, anacondas e lacraias são exemplos. Além desses, inspirados na fauna, estigmatizam também: Pinóquio, Sodoma, piratas, metástase, Al Capone, "longa manus", cara de pau.

 O criminalista ainda comenta o efeito destes rótulos:

Mas por que perdura essa flagrante ilegalidade? Por agraciar com importante bônus os agentes da persecução penal, influenciando juízes e tribunais. Se para um lado há bônus, para o outro, reduzido a verme, resta apenas ônus, o ônus da prova da inocência.

A situação comentado pelo Dr. Adriano Salles Vanni é exatamente aquele vivenciado pelo Nelci Rones, Dr. André Herdy, Fritz Louderback e as outras: um adjetivo proferido em lugar de evidências - e servindo como motivo de prisão.

Sorte e coincidência

Em 2007, a corja da Colina acusou Fritz Louderback e Dr. André de pedofilia, e nós aqui dissemos de imediata que era balela. Escrevi aquela semana para o ombudsman da Folha e outros; semana seguinte procurei o Consulado Americano pedido ajuda para Fritz e Barbara; na véspera de Natal escrevi para Elias Pereira - substituindo para Dr. André na presidência da FBrN - alertando da sinais características de uma farsa policial, e alertando ainda que não importando como terminar o caso, ninguém nunca se orgulharia de abandonar um amigo, na hora de necessidade.

Quando as acusações vierem contra Nelci Rones, nossa resposta aqui foi publica e imediata. Nos assuntos que motivaram a ruptura da Sontata com a FBrN, as correnteza predominante aqui (ainda que o peladismo tolera divergência) era exatamente contra a posição de Rones.

Mas a prisão de inocentes é um assunto de suma importância; a admissão de solterios desacompanhados na praia não é. O que nós divide do Nelci Rones é pequeno, e o que nós une é grande, começando pelo fato que Rones também é filho de Deus.

Mas que identificamos a falsidade das acusações com rapidez no caso Colina do Sol não foi sorte; que acertamos de novo no caso de Rones, não é coincidência. Que nosso análise exposto aqui seja, sem tirar nem por, o que Dr. Adriano expus no maior jornal do país, também não é sorte.

Coragem

Curioso é que jornalista ache que é preciso alguma coragem para dizer que alguém é inocente, sem saber todos os fatos. E se, ao desenrolar dos fatos, o acusado for culpado? E o perigo de ter defendido um culpado?

O oitavo mandamento é "Não levantaras falso testemunho". A presunção de inocência é a pedra fundamental de jurisprudência ocidental. Pensar o melhor dos outros até comprovado o contrário, e ainda esteja disposto a perdoar, é a mensagem central do Testamento Novo.

Defender um culpado não é nem crime nem pecado. Acusar um inocente é ambos.

O que deveria assusta, é o risco de acusar um inocente. O que deveria assustar, é quanto pouco jornalistas se preocupam com a presunção de inocência. O que deveria assustar é o desprezo total para com as evidências e com os fatos, com que a imprensa procede quando um Autoridade faz uma acusação.

Risco baixo em defender

Ademais, o risco é baixo em defender alguém acusado de fazer parte de um "rede internacional de pedofilia". Abuso sexual de menores é um crime que quase sempre acontece dentro dos paredes do lar, cometido por familiares.

Sem entrar num excesso de detalhes, estes casos são quase sempre invenções. O "primeiro rede de pornografia infantil" nos EUA, em Los Angeles em 1973, não tinha ninguém processado por pornografia infantil. O "maior rede" foi uma empresa de Texas que processava cartões por sites adultos. Milhares de freguês foram apontados e presos, mas no maior parte dos deles, seus números dos seus cartões tinham sido roubados e usados à revelia. A página oferecendo pornografia infantil que a polícia mostrou para o juiz, foi desmascarada como uma montagem da próprio polícia. Como no "primeiro", e como no "maior", em quase todos estes casos, os números - ora de 'vítimas', ora do tamanho da freguesia, das receitas financeiras, da quantidade de revistas, fotos ou filmes produzidos - nunca aguentam uma examinação mínima para consistência ou plausabilidade.

Em outras palavras, quando alguém fala que estourou uma "quadra internacional de pedofilia", é uma aposta segura de que ele esteja mentindo. Estatisticamente como moralmente, não é nada arriscado em defender um acusado nestes casos.