sábado, 6 de outubro de 2012

O que a Mulher gosta?

A presidente Dilma está na capa da Folha de S. Paulo de hoje, admirando a "Medusa Morta" de Carvaggio, na abertura no Palácio do Planalto da exposição que atraiu fila enormes para o MASP. A legenda cutuca a curiosidade com a informação de que Carvaggio é "um dos seus pintores favoritos", e remete para a Página A6 onde o leitor depare não com as gostas artistas da presidente, mas com o desgosta de vários políticos com o que passa no outro lado da Praça dos Três Poderes, no julgamento no Supremo.
Presidente Dilma Admirando São Jeronimo
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

O que é mesmo que a Mulher (pois enquanto como a Folha, rejeitamos a palavra "presidenta", nada temos contra dá para a Mulher o mesmo maiúsculo empregado para o Homem) gosta? Já notamos aqui que quando visitou a exposição  "De El Greco a Dali" em Paris, conforme os jornal O Estado, ela "fixou o olhar com maior demora em três obras-primas sobre crianças feitas pelo pintor impressionista espanhol Joaquin Sorolla y Bastida". As pinturas, notamos, retratavam crianças brincando peladas na praia.

O blog do Planalto foca na exibição mesmo,  mas a frase da presidente é genérica:
“Eu queria dizer que pra mim é um momento especial porque nós estamos aqui numa obra moderna, original, que é o Palácio do Planalto e, ao mesmo tempo, estamos recebendo seis telas de um dos maiores pintores (…) É um encantamento poder permitir que milhares de brasilienses que nasceram aqui ou que visitam essa cidade tenham acesso à essas seis obras (…) Um palácio de governo serve para várias coisas: serve para a gente passar os dias gerindo e se esforçando para governar bem o Brasil; mas deve servir também para que a gente possa expor grandes pintores”, afirmou a presidenta.
A exposição em São Paulo incluiu não somente as seis obras do mestre, mas vários outras da sua escola, incluindo uma reprodução seissentista, muito bem feita, do seu quadro dos trapaceiros de cartas.

Houve muitos santos idosos, notáveis pela delicadeza das aureolas, que pareciam mesmo círculos de luz e não pratos dourados. Houve muitos crânios também, e um número assustador de degolações. Uma das características do Carvaggio é que ele pintava de modelos vivos; onde encontrou modelos degolados, não estou disposto a pesquisar.


Convite de presidente é irrecusável, além do qual o Planalto é muito bem localizado, e a recente reforma do palácio respondia especialmente a questões de segurança física e climatização. E contra roubo, bem, sede de governo conta com esquema de proteção especial.

Mas enquanto Sua Excelência poderia muito bem cede os salões do Palácio para uma exposição itinerante, não teria tem o tempo nem o peso para especificar quais obras vinham para o Brasil.

Algo que faltava no MASP, e assim faltaria no Planalto, foi o nu. Uma olhada pela obra de Carvalho disponível online revela vários nus, não femininos mas masculinos, e geralmente juvenis. Um dos quadros mais famosos do pintor é o "Amor Vitorioso". Não veio de Berlim para São Paulo; obras deste porte raramente viajem.

A acolhimento do Carvaggio confirma o gosto da Mulher para o artista, mas estas obras que vieram, não necessariamente são suas prediletas. Seria preciso seguir seus passos pelas grandes coleções de Europa, para saber o que gosta mesmo. E jornalistas infelizmente são muito menos interessados nas obras-primas que atravessaras os séculos, do que as mesquinhices do momento.

Nem o blog do Planalto interrogou a presidente sobre a arte, talvez porque com vários dos seus antecessores, teria sido uma tocaia. FHC poderia ter respondido sem tropeçar, mas ... melhor nem começar.

Um político norte-americano não poderia ser ligado às pinturas de Sorolla, dado a associação que a mídia faz entre crianças peladas e o cheiro de enxofre. Dilma, sendo brasileira, tem mais liberdade. Já usamos uma obra de Carvaggio para ilustrar o outro blog, faz um bom tempo, com um Jesus criança e pelado, pisando no serpente. O uso do nu infantil era corriqueiro na Renascença. Até parece que para preencher qualquer vazio numa pintura religioso, ou de qualquer outro motivo, uns puttis  peladinhos sempre cabiam. Não chegou, ainda, ao ponto de que qualquer artista que pintou criança nua tem até seus santos olhado como suspeitos.